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Tempos de altas velocidades

Santa Rosa já viveu seus altos tempos no automobilismo, as competições de kart levavam grande público ao Parque de Exposições da cidade, quando milhares de pessoas chegaram a acompanhar corridas que levavam o público ao delírio, e nos tornamos referência no esporte. Atualmente a pista foi desativada dando lugar ao Espaço Fenasoja, uma área de shows e quadras de esporte coberta. Nesta edição entrevistamos Carlos Alberto Benedetti, uma referência no automobilismo brasileiro, vez que foi Campeão Brasileiro de Endurance.

Benedetti relembrou que nos bons tempos do automobilismo local a pista de Kart com 840 metros, onde cada volta chegava à média de 45 segundos e velocidade média de aproximadamente 90 km/h e máxima na reta chegando a 120 km/h. Durante uma prova chegou a ter um público de aprox. 30 mil pessoas acompanhando, e até nos treinamentos oficiais já eram cobrado ingressos devido ao grande público que vinha prestigiar as competições.

ASSOCIAÇÃO

A história do kart em Santa Rosa tem inicio há aproximadamente 30 anos atrás, quando um grupo de empresários ligados ao Rotary, entre eles Diogenes Andriguetto, Rubens Zamberlan, Frosi, Vilmar Steffen, Carlos Schuh, Carlos Michell, Paulo Lavarda, José Scalco, Pedro Carpenedo, entre outros, fundaram o kartódromo no Parque de Exposições onde existia uma área ociosa que ninguém pretendia usufruir.

Foi preciso uma grande infraestrutura no local e com muito trabalho foi criado até um lago artificial que embelezava o Parque. Também havia posso artesiano para bombear água.

Assim se deu o inicio o kartódromo e criada a Associação Santa-rosense de Automobilismo (ASA), que foi publicada no diário oficial do Estado. Benedetti relatou que a entidade sempre contou com poucos membros, pois exigia muito recurso financeiro.

“Sempre fui um aficionado pelo esporte e então fui colocado de vice-presidente. Na primeira dificuldade financeira, seis meses depois, aconteceu uma reviravolta na diretoria e eu acabei me tornando presidente permanente e, com raras exceções, abri espaço para outros membros que se mostravam dispostos a ocupar o cargo.”

KARTÓDROMO

“Os recursos eram elevados e muitas coisas realizávamos com dinheiro próprio, também em rifas e de outras formas em que a comunidade colaborou e conseguimos pagar os custos e homologação da pista junto à Federação Gaúcha de Automobilismo (FGA). A pista era tão boa para época, de 840 metros, que segundo a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), sediada na França, estávamos dentro do padrão internacional, no que homologamos não para provas internacionais e sim para provas estaduais, e no decorrer dos anos sediamos duas edições do Campeonato Gaúcho.”

“Foi algo incrível, e chegamos a ter 40 pilotos no grid. Era uma maravilha e a sociedade da região estava lá prestigiando. Tornamo-nos um polo do automobilismo. O outro kartódromo era em Cruz Alta, que deixou por um período de ser referência passando esse posto para Santa Rosa.”

“Cheguei a ter o sonho de fazer um autódromo em Santa Rosa, mas só é possível se estiver o aeroporto funcionando e com a Ponte Internacional, porque as equipes precisam de agilidade no transporte.”

PILOTOS

Na cidade existiam dezenas de pilotos, família Kubitz, Admilson Bliger, , que também foi presidente da ASA, Melgarejo pai e depois seu filho Tiago, Benedetti e seu filho, Josemar Tonel, Tito, Elio Genz e Wilson Mallez que também foram presidentes da ASA. Segundo Benedetti, Tito chegou a correr a categoria sênior. “Era um grupo bom e chegamos a ter 40 pilotos filiados, organizados, com carteira para pilotar.”

“É um esporte que tem uma certa periculosidade, e que aumenta quando não se usa os equipamentos necessários de segurança, desde capacete homologado, kart com carenagem, que custam algo em torno de R$ 15 mil, mais os pneus para treinos e para provas.., é caro”, diz Benedetti.

“No mais, os pilotos tinham avaliação psicológica, as provas sempre contavam com ambulância, médico, juízes, bandeirinhas, todos os procedimentos exigidos pela Federação, olhando de fora parece um esporte simples com um brinquedo, mas não, é um esporte que posso dizer que se precisa de bala na agulha. Até me recordo de um acidente onde o piloto Menegon acabou errando uma curva e parando dentro do lago, mas felizmente nunca ocorreu nenhum acidente com gravidade aqui em Santa Rosa.”

ASA

“Sempre foi pago os impostos, as provas eram todas organizadas com total segurança, contabilidade em dia. Nos dias atuais a ASA – kart sempre teve dentro das conformidades legais dentro do automobilismo e contábil. Atualmente a diretoria está ativa, legalizada, com todas as documentações em dia, mas sem o kartódromo estamos sem visibilidade e nossos pilotos se inscreveram em outras cidades, desmotivando o kart em Santa Rosa. Já tivemos a presença do Governador Germano Rigoto, entre outras grandes autoridades na pista.”

TURISMO

“Para as competições chegavam pessoas de todas as partes do Estado, de Santa Catarina e até da Argentina. Na época já sonhávamos com a Ponte Internacional, que até hoje não saiu, pois iríamos ser contemplados com muito mais público e competidores, principalmente da Argentina, lembrando que a cidade de Oberá tem um autódromo e que os argentinos gostam tanto do automobilismo quanto os brasileiros.”

ETAPAS DO GAÚCHO

Durante duas vezes fomos sede do Campeonato Gaúcho de Kart, entre os anos de 1998 e 2002 onde tivemos o auge do automobilismo. Fomos privilegiados pela organização e um grande número de pilotos. São 12 kartódromos no estado e, conforme o número de filiados, com carteira a Federação, chegamos a ter mais de 40 filiados, ficando atrás somente de Porto Alegre, na pista de Tarumã.”

“Chegamos a ter 30 mil pessoas no Parque de Exposições durante uma Fenasoja, que acompanharam as corridas. Existem fotos lendárias que outras pessoas do automobilismo não acreditam. Passamos realizar as provas também fora do período da Fenasoja, devido aos treinamentos, e o público lotava o local para acompanhar os treinos oficiais. Chegamos a cobrar ingressos até para treinos, pois era muita gente. Até 32 pilotos competiam, mas chegamos a ter mais de 40 inscritos.”

CAMPEÃO BRASILEIRO

“Em 1998 fui terceiro colocado na corrida de 12 horas de Tarumã, na classe Turismo. Em 2002 fui campeão Brasileiro de Endurance, uma das competições mais difíceis do País, feito pelo qual fui agraciado com uma Menção Honrosa na Câmara de Vereadores. A 28ª edição das 12 horas de Tarumã em 2002, consagrou o piloto santa-rosense e seus companheiros de equipe Irineu Camargo e Marcel Worfat, como campeões brasileiros de endurence, com 31 pontos. Competi na fórmula Ford, Pick-Up, até 2012, e depois acabei me afastando do automobilismo devido a questões profissionais.”

KART NO ESTADO

“A Federação Gaúcha de Automobilismo (FGA) que organiza todos os campeonatos de automobilismo e o kart é um departamento desta. As competições continuam sendo realizadas em cidades onde tem pilotos na Federação. Já em Santa Rosa acredito que somente eu continuo pagando a Carteira, porque é um trâmite muito incômodo para renovar.”

ÁREA DO KART

“A área sempre foi utilizada e mantemos o cuidado no local, recapeamos a pista que tem 840 metros, entre outras melhorias. Infelizmente, no local foram realizados eventos variados, o que acabou deteriorando a estrutura, não sendo entregue conforme combinado, vez que passaram máquinas pesadas sobre a pista, o que a afundou, impossibilitando sua utilização para provas do Campeonato Gaúcho e do Regional. Acabei não autorizando nem ser realizados treinos no local, e assim ficou sem uso por quatro anos. Então, nesse perídio, realizamos obras de infraestrutura para ser renovado o comodato, em 2024, e a ASA investiu R$ 280 mil em infraestrutura, cercamento, aterramento, jardinagem para ficar dentro das conformidades legais para a nova pista orçada em R$ 700 mil. Somente a pista e infraestrutura paralela e auxiliar em torno de R$ 300 mil até R$ 500 mil. Não pudemos construir a pista e a infraestrutura depois, a nova pista que pretendíamos fazer teria de 1050 metros até 1100 metros, passando de 6 metros para 8 metros de largura, visando sediar eventos internacionais. Somente por baixo da área existem dois mil metros de tubulação que fazem a drenagem no local.”

Benedetti (pole position) e Nelson Piquer (pai), em Capão da Canoa, Copa Arisco em 1995.

NOVA ÁREA

“No ano passado fomos procurados pelo Governo Municipal e lideranças da cidade nos solicitando a cedência do local para ser criado um local para eventos. Relutei durante algum tempo, mas acabamos entrando em acordo, sendo que nos foi prometido uma nova área e infraestrutura básica, a qual nos havíamos construído na antiga, e então acabei assinando por ser Presidente. Os demais sócios foram contra, sendo contrário ao que está no estatuto, mas fui coagido a assinar a desistência do comodato com o Prefeito em exercício, na época Marcos Migue Knorst. Quando fui ver já haviam retirado alguns bens da área, cerca e poste, mandei um ofício ao Prefeito pedindo que o material fosse guardado para ser utilizado no novo espaço, mas por surpresa não foi guardado o material.”

“Acredito que o Poder Público Municipal vai honrar com sua promessa, destinando uma área para o automobilismo. Até o momento, as áreas que tentamos buscar sempre tem problemas variados. Estou sentindo que fomos ludibriados e enganados, pelo menos até o momento, pois a área era para ter sido destinada já no ano passado. Já se passaram seis meses e nada aconteceu.”

FUTURO

“Meu sonho é voltar a ter o kartódromo em Santa Rosa, ou região, onde já fui procurado por dois municípios que tem interesse. Para a cidade é um fator que agrega no esporte, turismo e economia, o podemos visualizar no exemplo da cidade de Guaporé, que tem kartódromo e autódromo. É uma cidade menor que a nossa, mas economicamente os eventos automobilísticos tem grande importância regional, sediando provas de fórmula Truck, campeonato sul-americano, entre outros eventos.”

“Existem pistas travadas e de longa. A pista travada da mais emoção, que era o caso da que tínhamos, já a pista de longa, do tipo que pretendemos construir na nova área, o piloto terá que ter mais habilidade do que audácia. Vamos pensar no kartódromo, porque automobilismo exige muito recursos financeiros, e a nova pista custaria em torno de R$ 1,5 milhão, dinheiro que para os kartistas não é problema e nunca foi. Não dependemos de recursos públicos e estamos com as contas em dia. Não conseguimos construir a pista nova por que o poder público se comprometeu em destinar uma área e ate o momento nada aconteceu. Muitos já querem construir a pista fora de Santa Rosa.”

Primeira prova após morte de Ayrton Senna

LEGADO

“Sonho em deixar um legado, que é a pista. Sem pista destruímos o sonho das crianças que gostam do automobilismo, e pensamos no kart por que é menos perigoso e onde se começa a desenvolver habilidades. Todos os grandes pilotos começaram no kart. Até 10% da população tem um sonho em correr no esporte automobilístico, 50% é futebol, o que é importante, mas o automobilismo desenvolve várias particularidades, entre elas a audácia de querer vencer. Já no esporte coletivo você é um colaborador para vencer. No automobilismo o destaque é o individuo, que tem que ser impetuoso, imperativo, audacioso, alguém que arisca e aposta na sua capacidade. Todos que entram na corrida é para ganhar, diferente de outros esportes onde a maioria entra para cumprir contrato. Não me lembro no automobilismo onde algum piloto entrou para cumprir a temporada ou contrato, é pouco provável, as equipes exigem que seja competitivo até a última prova.”

“Meu grande ídolo sempre foi o Ayrton Senna, o homem da perfeição no automobilismo, que começou no kart. Creio que Senna seria perfeito também se fosse médico, e me inspiro nele, tento ser perfeito, posso não ser, mas o Senna era o melhor, e aprendi com ele para vida profissional que devemos ser audaciosos, mas nunca mau carácter ou desleal. Fui campeão brasileiro devido ao kart. Praticamente todos os grandes pilotos tiveram início no kart”, finaliza Benedetti.

 

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