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ONG AMIGAN

O D´Life Story dessa edição conversa com a co-fundadora e presidente da ONG AMIGAN, que completa 20 anos. Rosane Borsekowske tem uma história de vida dedicada à proteção e ao amparo dos animais de rua, famintos e abandonados. Com auxílio de uma equipe de voluntários, fazem a diferença no quesito solidariedade e boa vontade.
Rosane tem 53 anos, é professora, administradora, psicóloga, mãe da Caroline e do Maicon, esposa do Magnos Roberto. Uma guerreira, procurando salvar vidas de muitos animais, um trabalho a ser divulgado e aplaudido. “Desde 1999 realizo esse trabalho, sempre com muita dificuldade, em busca de novas pessoas na luta”, diz Rosane.

Marli Zorzan: Como começou essa paixão em ajudar os animais abandonados, então criando a AMIGAN, ONG que colabora em auxiliar esses animais que estão na rua?
Rosane: “Essa minha missão começa de berço. Minha mãe era uma pessoa que adorava animais e vivia resgatando. As pessoas que a conheciam, já a procuravam quando tinha situações de abandono animal. Então ela recuperava e depois doava. Aos poucos fui vendo aquele amor desde quando ela acordava: antes de qualquer coisa era o café da manhã dos animais, preparava um pãozinho e levava para eles. Eu trabalhava fora e com filhos pequenos não tinha como fazer esse trabalho. Então minha mãe faleceu e esse processo foi acelerado. Eu estava muito sensível e buscava conforto nos animais. Fui buscando pessoas para me ajudar. Estávamos sentados na praça em um domingo de tarde, juntamente com um veterinário, quando chegaram alguns animais, pois estávamos comendo pipoca. Naquele momento despertou a necessidade de ajudar esses animais; então começamos buscar formas de fazer isso, desde castração a todo tipo de ajuda. Começamos aos poucos e foi crescendo.

Marli: Você disse algo muito importante, quando estamos sofrendo com coração oprimido, com dor, devemos fazer o bem sem importar para quem ou como fazer, mas realizar. Você achou uma forma de contemplar o amor que você tem pela tua mãe realizando esse trabalho. No início quem ajudava?
Rosane: Começamos entre cinco pessoas, sendo um veterinário que nos auxiliava. Realizávamos reuniões uma vez por mês, convidando novas pessoas, pois precisávamos buscar recursos financeiros para conseguir condições melhores de ajudar. Então criamos uma ONG, criamos uma diretoria, fizemos tudo oficialmente em 2003 e desde o início com o nome AMIGAN (Associação de Amigos dos Animais).

Marli: No início da ONG não havia tantos animais abandonados como hoje em dia. Eu percebo que a insensibilidade parece que aumentou. Você sente isso?

Rosane: Com certeza. Não sei se a população aumentou ou que aconteceu. Estamos realizando esse trabalho voluntário e as pessoas continuam abandonando cada vez mais. Se eu passar por uma rua, vejo dois animais, no outro dia com certeza terá quatro ou cinco. Hoje recebemos em torno de 15 a 20 denúncias por dia de maus tratos pela página do Facebook ou Whatsapp. Algumas pessoas já fazem as denúncias no Portal da Prefeitura, que existe uma ouvidora que conta com três fiscais que fazem os atendimentos que podem multar e tomar as medidas cabíveis segundo a lei. Nós realizamos o trabalho de suporte e encaminhamos para doação através de feiras, tratamento veterinário, campanhas de castração; esse é nosso trabalho.

Marli: Fico muito triste, sou uma pessoa que gosta muito de animais, fico sensibilizada com esses animais abandonados. Tenho meus animais, sou apaixonada por eles. Nunca estive tão envolvida com a AMIGAN ou com a Focinho Amigo, da maneira que estou agora. Todos casos me chocam. Vocês são guerreiras, buscam patrocínio, auxilio para remédio, ração, veterinários é difícil. Quando é constatado o mau trato, o que é feito? A pessoa é punida?

Rosane: Com certeza, mas tudo se faz com provas. Quando você ver alguém abandonando um animal, a primeira coisa é anotar a placa do carro, por exemplo. Quando temos provas, registramos Boletim de Ocorrência. No caso de maus tratos nas casas, o fiscal vai até o local, verifica a situação, junta as provas e, se for constatado maus tratos, é feita a denúncia; então o Ministério Público realiza o processo dentro da lei.

Marli: Em Santa Rosa alguém já foi punido?

Rosane: Não acompanhamos os processos depois, apenas fizemos as denúncias no MP. Acreditamos que com certeza sejam punidos com multas, serviços comunitários. A lei é bem clara e está ficando cada vez mais rígida, mas precisamos de provas e é tão fácil gravar, tirar uma foto, todos andam com celular no bolso. Atualmente existem 3 lares temporários com 27 animais em cada uma. Na maioria são animais que não serão adotados. Isso é a maior tristeza: animais com sequelas, sem perna, problema nos olhos, problema de coluna, com tumor, velhos, daí ninguém adota. Pode ser de raça, mas ninguém quer assumir nesses casos, então não abre espaço para resgate de novos animais. Nos desesperamos pelos pedidos que chegam até nós, mas não temos como acolher, não tem mais espaço nos lares temporários. No Facebook tem mais de 50 pessoas comentando, lamentando, mas quase ninguém diz que vai dar um lar temporário, ajudar com valores, levar no veterinário. Todos os dias realizamos atendimentos, em sua maioria, pequenos. Por exemplo: sarna, isso nem postamos nas redes sociais. Por semana são gastos de três a quatro mil reais, colocamos nas redes apenas os casos maiores, que existem custos maiores. Sempre temos cinco pessoas em cada postagem que nos ajudam. Não é o suficiente, mas ajuda muito. Hoje tem 8 cirurgias que foram pagas apenas parte dos valores.

CASINHAS COMUNITÁRIAS

Marli: Um projeto que está tendo muita aceitação e apoio da comunidade são as casinhas. É maravilhoso, é lindo. Teve uma participação muito grande da comunidade?

Rosane: É um projeto de dez anos. O projeto total depende da comunidade, a AMIGAN não desembolsou nenhum real. Cada casinha é patrocinada por pessoa física ou jurídica. As empresas que participam ganham destaques na casinha, para serem valorizadas juntamente com um selo em sua empresa, pois faz parte da defesa da causa animal. O custo da casinha é de R$ 80,00. Tem muitas casinhas na cidade e quase todas ocupadas. Para construção das casinhas tivemos embasamento em uma lei estadual da Regina Fortunati, criando as casas comunitárias, até porque tirar um animal da rua e jogar num canil não é legal.

PROIBIÇÃO FOGOS DE ARTIFICIO BARULHENTOS

Marli: Outro ganho da AMIGAN: quem tem animais sabe que é horrível fogos de artifício. Em nosso município foi aprovada a proibição dos fogos de artifício barulhentos, pois os animais tinham medo, chegavam a fugir.

Rosane: Nossa preocupação principal era que muitos animais acabavam morrendo no tentar fugir pulando grade, enforcado. No desespero de fugir ocorrem muitos casos tristes. As pessoas se divertem, acham bonito no final de ano e no outro dia a AMIGAN tem que correr atrás de diversos animais mortos de diversas maneiras por causa dos fogos, além de animais feridos que precisamos dar atendimento.

CASOS CHOCANTES

Rosane: Existem muitos casos que não é de acreditar: teve um caso de um cachorro que estava amarrado curtinho, apodrecendo em cima de um formigueiro e as formigas comendo. Salvamos ele, nem se mexia. Esse foi um caso que machucou demais, tivemos que chamar a Polícia para poder retirar o animal, pois o dono estava agressivo. O que me machuca é que as pessoas estão cada vez piores. Tem pessoas que, sinceramente, são lixos. Você está vendo o problema, olhando para o problema e elas te debocham na cara, estão nem aí, para ela tanto faz. Nós pedimos, porque não podemos retirar o animal sem ordem judicial. Então em casos extremos encaminhamos para o Ministério Público, o qual providencia a retirada. As pessoas teimam em não querer entregar o animal, mesmo sabendo que está fazendo essa maldade; não gosta do animal, mas também não quer te entregar.

CANIL MUNICIPAL

Marli: Fui lá, fiz um vídeo, postei nas redes sociais, chego a me emocionar de lembrar. Você vai lá, vê animais velhinhos, pouco espaço, alimentação precária. Aproveito para solicitar doações para os animais que vivem no canil municipal. Não existem nem árvores no local; não tem espaço para a AMIGAN ficar auxiliando. Parabenizo os restaurantes que ajudam com alimentação. Quando cheguei lá fiquei chocada. Tem coisas boas que vem por aí e a comunidade precisa saber essas coisas boas: em parcerias que vocês correram atrás, com Ministério Público e engenheiros que estão desenvolvendo projetos para termos um canil descente.

Rosane: Faz muito tempo que queríamos reformular o canil municipal, pois ele foi feito de uma forma para quebrar galho, por necessidade, sem estrutura. Vários políticos e vereadores conhecem toda situação e sabem que aquele espaço não é legal, não é adequado. O projeto é maravilhoso, mas ainda não podemos divulgar imagens. Já está na Câmara de Vereadores; não sei quando será aprovado, mas o dinheiro vai vir através do fundo municipal do meio ambiente. O local é da prefeitura e o investimento também; nós vamos buscar complementação, auxiliar nas salas de banho, também queremos fazer um local todo fechado, para não haver mais fugas; um local dos animais, com recreação. Também terá um local de quarentena, pois todos animais que chegam precisam passar por isso, por causa de viroses.

NOVOS PROJETOS

Rosane: Estamos buscando junto ao Governo do Estado, através dos Deputados, um projeto de castração. São vários projetos: dois já saíram do papel, o terceiro ainda não posso contar, mas será maravilhoso para Santa Rosa. Serão suprimidas várias necessidades, principalmente nas vilas. É bem complicado fazer os projetos andarem, envolvem muitas coisas. Também queremos que todos os animais sejam chipados; inclusive já solicitamos à prefeitura, mas o custo é muito alto. Os animais que chegam até nós e tratamos, já serão chipados para podermos localizar ele se estiver perdido, para fazer cadastros dos donos. Em tempo real poderemos saber tudo, quantos animais tem na cidade e monitorar.

RECADO

Rosane: Precisamos de mais pessoas ajudando: quanto mais, melhor! Os problemas serão resolvidos mais facilmente. Precisamos de mais lares temporários, que abram as portas de suas casas e ofereçam os espaços, nem que por alguns dias, porque cuidamos dos animais, tratamos e depois voltam para rua. Existe a possibilidade de encontrá-los novamente, por exemplo, atropelado. Precisamos de ajuda com valores ou espaço físico. Santa Rosa é uma cidade muito solidária, contamos com isso!

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