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Como reduzir os efeitos maléficos de ficar sentado o dia inteiro

Na década de 1940, o médico britânico Jeremy Morris notou uma mudança entre os trabalhadores do sistema de transporte público de Londres. Entre os motoristas de ônibus, que ficavam sentados o dia inteiro, a incidência de doenças cardíacas era muito maior do que entre os cobradores – que constantemente subiam e desciam as escadas dos famosos veículos de dois andares. Mais tarde, ele estudou a saúde de funcionários públicos e dos carteiros. Seus estudos lançaram uma questão que é debatida até hoje: os efeitos danosos do estilo de vida sedentário, com trabalhadores sentados o dia inteiro dentro dos escritórios, e como os exercícios físicos podem reduzi-los.

Em julho, um estudo recente foi publicado na The Lancet, com o título “atualização sobre a pandemia global de inatividade física”. A publicação incluiu uma análise que combina os resultados de diversos estudos, usando dados de mais de um milhão de pessoas para determinar a quantidade de exercícios físicos necessária para compensar o risco de mortalidade prematura causado por passar muitas horas sentado.

De acordo com o professor Ulf Ekelund, da Norwegian School of Sport Sciences, o líder do estudo, entre 60 e 75 minutos de exercício moderado diariamente, como caminhada rápida ou andar de bicicleta, “parecem compensar a associação entre o tempo que se passa sentado e mortalidade”.

Quando disseram a ele que essa recomendação pode ser difícil de ser seguida, Ekelund afirmou que “em média, um britânico assiste três horas de televisão por dia. Deve ser possível dedicar parte desse tempo a exercícios”. Ele apontou que pelo menos metade da recomendação dos 60 a 75 minutos já está associada à redução significativa no risco.

Passar muito tempo sentado afeta muitas partes de nosso corpo e aumenta o risco de ataques cardíacos, AVC (acidente vascular cerebral), diabetes tipo 2 e outras doenças. Além disso, ficar sentado na posição de C – com a cabeça para frente e os ombros caídos – pode afetar a respiração e o fluxo sanguíneo para o cérebro.

A recomendação causou polêmica – já que é muito mais alta do que sugeriram estudos anteriores. Por exemplo, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, a Sociedade Americana de Câncer e a Associação Americana do Coração recomendam 150 minutos por semana de atividade física moderada, ou 75 minutos de exercícios vigorosos. Estudos internos da Associação Americana do Coração mostram que metade da população dos Estados Unidos não cumpre, sequer, essa recomendação.

Outro ponto levantado foi que a recomendação do estudo publicado no Lancet é destinada a compensar o tempo máximo de 8 horas em que as pessoas ficavam sentadas. Mas estudos separados realizados nos Estados Unidos mostraram que trabalhadores ficam sentados, em média, 13 horas por dia – considerando o tempo em que as pessoas ficam sentadas nos carros, trens, durante refeições…

Além dos exercícios tradicionais, como caminhada e bicicleta, existem outras táticas que podem ajudar a reduzir o risco de morte prematura por ficar muito tempo sentado. Fazer pausas rápidas ao longo do dia, como se levantar da mesa de trabalho por alguns minutos a cada hora, resultam em redução considerável do risco.

“Ao dividir o tempo em que se fica sentado, é possível observar uma série de benefícios”, afirmou Neville Owen, chefe do Laboratório de Epidemiologia Comportamental do Instituto Baker de Coração e Diabetes, em Melbourne, Austrália. Ao Financial Times, ele disse que “a hipótese é que além de realizar atividades físicas diariamente, dividir o tempo que uma pessoa passa sentada garante benefícios ao longo de todo o dia”.

Um estudo do qual Owen participou mostrou que as pessoas que fazem pausas de 5 minutos a cada hora apresentavam circunferência abdominal significativamente menor, além de níveis de triglicérides e de glicemia menores do que o grupo de controle.

Outra pesquisa, realizada pela Associação de Aposentados dos EUA (AARP), mostrou que, apesar de os exercícios tradicionais apresentarem melhores benefícios, uma hora por dia de “diversas atividades diárias, como cuidar do jardim e realizar tarefas domésticas” também são efetivas.

É preciso observar também outros hábitos, como a alimentação. Por exemplo, um estudo realizado com 50 mil enfermeiras nos Estados Unidos, que avaliou vários fatores relacionados à mortalidade, mostrou que realizar uma hora de exercício por dia reduzia a taxa de risco em 13%, assim como comer duas porções de nozes por semana ou 4g por dia de fibras.

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