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Um pouco da história do Tape Porã

Por Maria Inez F. Pedroso, Escritora/Contadora de Histórias

Muitos passeios de bicicleta ao longo da Expedicionário Weber, no trajeto urbano da rede ferroviária, trecho compreendido entre as antigas estações Santa Rosa e Cruzeiro. Olhar atento à situação de abandono e descaso à faixa de terra, com mais de 4km de extensão e largura de 30m e às centenas de dormentes que deram suporte aos trilhos da RFFSA para o transporte ferroviário que propulsionou o crescimento da cidade. Muitas ideias efervescentes acompanhavam as pedaladas e eis, que, num destes passeios, uma delas saltou à frente das demais. José Facchin a levou aos companheiros da OSCIP Cidade Interativa: ele havia imaginado naquele trecho abandonado, um parque longitudinal, cortado apenas pelos acessos aos bairros vizinhos, que abrigaria trilhas para caminhadas, ciclovia, reflorestamento em toda sua extensão, bancos para descanso, um verdadeiro pulmão verde em plena cidade. Ufa! Pois bem! A ideia foi abraçada. Como seria denominada aquela loucura? Num concurso interno, o “Schimo” (Elton Schimorantz) propôs “Tape Porã”. Assim, em 2000, nasceu o projeto que em Tupi Guarani significa “Caminho bonito”.

E agora, o que o grupo de visionários faria para se tornar palpável o sonho? Eram necessários muitos debates e mobilizações para a comunidade tomar conhecimento, entender o propósito e abraçar a ideia.

Estudo e elaboração do projeto, criação de banner logotipo, ocupação de todos as oportunidades possíveis para divulgação da ideia, panfletagem no Parcão. Durante algum tempo várias tentativas de aproximação e apresentação do projeto ao Executivo Municipal, foram sem êxito. Em junho de 2004, foi apresentado à comunidade.

Quando do pleito de outubro de 2008 foi distribuída uma carta de sugestões para os candidatos, tendo como um dos pontos o Tape Porã. Tal sugestão foi utilizada como proposta por uma das chapas. Ainda na busca pela atenção do Executivo Municipal, numa certa ocasião mais uma vez foi rechaçada a possibilidade de sequer cogitar sobre o referido projeto, uma vez que segundo referido na ocasião “não se criaria uma ilusão, não se pode sonhar”.

Os sonhos não são proibidos! Quando se acredita naquilo que se faz, há persistência. Paralelamente ao projeto Tape Porã, eram debatidas e promovidas ações de outras demandas da cidade ao ponto de render alguns adjetivos dados por algumas pessoas que não entendiam o alcance das ações ou, por terem outros interesses: incomodativos, visionários, iluminados, sonhadores. Os apelidos eram “carinhosos”. Em 2008, a comunidade foi convidada a filiar-se à campanha: “Tape Porã – Sou a Favor!”, que ficou ativa durante muito tempo. A Cidade Interativa acreditava na potencialidade do projeto e que sua implementação seria um marco que acrescentaria qualidade de vida ambiental aos cidadãos santa-rosenses, além do retorno turístico, paisagístico e cultural.

2013 e 2014, foram anos decisivos. Vários ofícios protocolados, apresentação do projeto e entrega de cópia do mesmo ao Poder Executivo, após reunião com representantes do DNIT e comunidade e a criação de um grupo de trabalho com representantes de várias entidades que se reuniram inúmeras vezes, foram ações determinantes. Finalmente, aconteceu o abraço do Poder Executivo ao projeto e vislumbrou-se algo concreto. A certeza veio quando o Ministério Público Federal (Santo Ângelo), conhecedor dos propósitos do projeto Tape Porã, determinou que os recursos provenientes do Acordo Judicial com a Companhia América Latina Logística (ALL), empresa responsável pela malha ferroviária na região, fossem destinados à execução do projeto.

No dia 28 de agosto, de 2015, a primeira etapa do “Tape Porã – Floresta Urbana”, o “Caminho Bonito”, foi inaugurada. Apesar dos esforços, demorou cerca de 15 anos para que a ideia fosse absorvida pela comunidade. Em 2016, mais uma parte foi inaugurada. Como vimos, este pequeno histórico contou um pouco da persistência de um sonho. Sem ela, ele não teria se concretizado. No início deste relato, foram citados os nomes do Facchin e do Schimo, com os quais se estende a homenagem aos demais que foram integrantes da OSCIP Cidade Interativa.

Hoje, o Tape Porã se tornou um cartão postal de Santa Rosa. Há que se ter, permanentemente, o propósito de que seja um espaço com ambiente acolhedor nos aspectos ambiental, turístico, cultural e de lazer, sem perder o propósito do nome. Para isso, uma campanha permanente de preservação e cuidados poderia ser feita. Tape Porã é um conceito de qualidade de vida, é o nosso (no sentido humano) “Caminho Bonito”.

Antes de finalizar, há que se lembrar que o projeto original prevê o parque longitudinal até a Estação Férrea de Cruzeiro. Sonho? Utopia? Quem sabe?

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