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“Nascemos um pequeno botão e desabrochamos para a vida, se nos tornarmos flor ou sombras depende de nossas escolhas”, Olga Liberali

Olga Liberali como é conhecida e reconhecida no mundo das artes plásticas, já na infância sempre gostou de desenhar, quando casada e com filhos desejou desenhá-los, resolveu fazer um desenho de Cecilia Liberali, sua filha mais velha, na época com 04 anos, e Olga com aproximadamente 30 anos. O desenho ficou muito parecido, “Bem legal”, como ela mesma refere. A filha foi a grande inspiração para investir em mais conhecimentos nas artes plásticas.

Naquela época em Santa Rosa havia um professor de desenho e Olga Liberali resolveu fazer um curso e acabou se identificando com o Nanquim (material corante preto originário da China. É preparada com negro-de-fumo coloidal e empregada em desenhos, aquarelas e na escrita. Desenvolvida pelos chineses há mais de dois mil anos, é constituída de nanopartículas de carvão suspensas em uma solução aquosa) e lápis crayon e seguiu desenhando em preto e branco. Muito tempo depois, pessoas que a conheciam pediram para ministrar aulas e explicar as técnicas, a proposta foi aceita e começou a ministrar aulas em sua própria casa até entrar para a faculdade de artes na Fundação Educacional Machado de Assis (FEMA), onde teve um agradável encontro com as cores. Na faculdade começou a usar tintas, mas não era aquilo que desejava, até que conheceu o Pastel Seco, onde após se formar começou a dar aulas para o ensino médico e na própria faculdade.

Com o novo material, a artista plástica produziu várias obras que resultaram na abertura de horizontes, uma das obras que fez e a seduziu é de uma mulher que parece encostada em uma parede. Olga Liberali tem uma particularidade, gosta de criar obras onde mulheres estão em primeiro plano.

“Gosto de pintar a mulher e o íntimo de cada uma, como por exemplo, o que ela pensa e o que sente naquele momento, a emoção”.

INSPIRAÇÕES

Com relação às inspirações, destacou que para criar uma obra de arte é necessário que haja uma semelhança entre a realidade e a sensibilidade do artista, ai então surge à obra.
“A gente muda bastante, vai passando os anos e vai mudando, mas aquela sensibilidade tem que existir para colocar na tela, eu acho assim, toda a obra de arte tem as duas partes, a realidade e a visão do artista”.

ATELIÊ

O Ateliê de Olga Liberali é um local espaçoso, aconchegante com muitas obras maravilhosas e coloridas, confidencia que muitas vezes esquece de almoçar ou jantar, pois tamanha é a alegria, o prazer e a satisfação de estar criando ou dando mais vida a uma determinada obra que recebe para dar mais cores e brilho. O Ateliê é decorado com obras em pintura, esculturas, desenhos, e trabalhos em vitrofusão, a grande paixão da artista.

ESCULTURAS

Conforme Olga Liberali, uma amiga fazia esculturas muito bonitas em madeira, diz que se entusiasmou e resolveu aprender, na faculdade as esculturas eram feitas em cimento celular e achou mais fácil trabalhar com esse material do que com a madeira, então foi se aperfeiçoando, afirmou que gosta de formas e dimensões, pois segundo ela, “tudo que a gente aprende, acumula e depois vão surgindo as ideias, e atualmente utilizo uma técnica que até hoje não soube que outro artista esteja usando, as cores do Pastel Seco que utilizo nas obras junto com vitrofusão”. A artista já possui obras com essa técnica expostas em Porto Alegre.

PRETO E BRANCO

Quando questionada porque o preto e branco não a seduziram, respondeu: “Eu acho muito lindo! Gosto muito! Mas eu prefiro cores, me situo melhor trabalhando com cores”.

PRIMEIRA VENDA

Olga Liberali revelou que passou a se ver realmente como uma artista plástica quando conseguiu vender a sua primeira obra durante uma exposição nos Correios. O evento era alusivo ao aniversário da empresa pública federal, que ressalta, “foi uma coleção de mulheres e homens alados, os quadros foram vendidos rapidamente”, fato que a deixou entusiasmada a continuar criando, as obras eram em pastel seco.

CRÍTICAS

“Isso que eu acho interessante em mim, eu jamais penso se alguém vai ou não gostar, eu faço aquilo que eu gosto. Por sorte as outras pessoas acabam gostando, mas, eu não penso nos outros, eu faço aquilo que sou capaz! Não tenho essa preocupação de agradar”.

A FACULDADE DE ARTES

Com os olhos brilhando pela volta ao passado que estava fazendo ao ser entrevistada, Olga Liberali relatou que quando o filho mais novo, Gustavo Liberali, estava para prestar o vestibular para cursar faculdade em Porto Alegre, ele deixou os livros do ensino médio em cima da cama para a mãe dar destino, ao passar em frente a Fundação Educacional Machado de Assis (FEMA), observou uma faixa enorme informando sobre o processo de inscrição para o vestibular, nesse momento tomou a decisão de entrar para conversar e obter mais detalhes, no que foi atendida por uma senhora muito simpática e disse que tinha vontade de fazer a faculdade de artes, mas na época em que os filhos eram pequenos não havia conseguido. incentivada pela mulher ela retornou para casa bem interessada e pensou: “Bom! Português tudo bem! História e Geografia tiro de letra, o que me preocupava era Matemática e Química, peguei os livros do Gustavo e comecei a estudar, dar uma lida, passou uma semana, aconteceu o vestibular, o Inglês, por sorte eu estava fazendo curso, e assim foi indo. Fiz o vestibular e fiquei em primeiro lugar.

Até achei graça porque não contei para ninguém, e de manhã cedo a Luíza Rigo, me telefonou, “Comadre! Como é que tu não me disse que fez vestibular?”, respondi mas como é que tú sabes? “Mas saiu agora que você ficou em primeiro lugar” respondeu Luíza, e então pensei, “Meu Deus! eu nem esperava, fiquei feliz da vida, ai eu fiz a faculdade de artes”.

VIDA ARTISTA E PESSOAL

“No início da carreira foi mais difícil, os filhos eram pequenos, mas depois ao crescerem já sobrava mais tempo”, Olga Maria Pinto Liberali é casada com Benaldo Liberali, ele um apaixonado por orquídeas e teve três filhos, Cicília, Guilherme e Gustavo Liberali, o caçula da família.

PERÍODO DA FACULDADE

“Enquanto eu estava na faculdade de artes, tinha meu ateliê e já trabalhava nele, e ai depois quando terminei a faculdade já permaneci na Fema como professora, primeiro com o ensino médio e depois as outras séries”. Hoje está aposentada, continuou dizendo: “Foi uma coisa muito inesperada, mas eu queria muito fazer a faculdade, mas com os filhos pequenos não era possível. Foi muito engraçado porque o meu filho Eduardo tirou o segundo lugar na URGS e eu tirei o primeiro aqui, ai eu mexia com ele, olha ganhei de ti”.

Olga Liberali após se formar passou a lecionar na própria instituição onde havia se formado, e também fez cursos e lecionou na Argentina (Possadas e Oberá), ministrou cursos de mosaico, viajava constantemente para Porto Alegre onde fazia cursos para se aperfeiçoar, ministrou aulas de mosaico em Santa Rosa, agora faz dois anos que não ministra cursos. Ela resumiu dizendo que teve uma vida bem movimentada.

TÉCNICAS APLICADAS

Se mostrando humilde apesar de todo o conhecimento, Olga fez questão de salientar que na arte é possível aprender diversas técnicas, mas o artista continua na dele e vai adaptando. Hoje ela usa o Pastel Seco com vitrofusão, sendo uma criação dela, mas aprendeu ambas as técnicas. Olga Liberali é uma mulher que gosta de desafio e arte a desafia todo o tempo.

A Artista Plástica falou de uma exposição que participou em Porto Alegre, “Sessions Vitro Station”, onde produziu cabides em madeira com vestidos de vidro que ficaram pendurados em uma arara. Em outra ocasião, ela estava viajando e no avião acabou pegando uma revista onde continha a foto de um armário bem trabalhado e dele imaginou um vestido cheio de botões.

“Isso é arte. A mesma é a escultura, onde o artista pega um bloco e o transforma em uma figura criada na mente.”

FAMA E IMPORTÂNCIA

“Eu fico feliz quando reconhecem as minhas obras, gosto claro, cada artista tem um jeito diferente de fazer a obra, o que importa é a sua criação, o olhar na realidade que criou em cima dela, então, cada artista é diferente um do outro, não precisa ficar preocupado se a obra é de um ou e outro. Não me preocupo com fama, glamour, mas fico feliz quando reconhecem meu trabalho, agora que eu vá me sentir melhor que o outro, isso não!”.

Questionada sobre beneficio econômico com artes disse: “Não, a gente vende, mas não que isso vá fazer grande diferença, não é tantas assim as obras de artes vendidas, economicamente as vendas cobrem os gastos, apenas isso, agora eu faço por amor, eu gosto.”

PRIMEIRO PRÊMIO

“O meu primeiro prêmio ganhei aqui em Santa Rosa no Centro Cívico, na Exposição Artistas da Terra, foi em desenho, desenhei umas mãos onde uma cobria a outra, e achei interessante porque no outro dia eu fui lá na exposição, quando entrei tinha uma senhora olhando, uma senhora que não conhecia. Ela disse, – “olha que lindo isso aqui, dá impressão assim de força, duas mãos que se juntam para trabalhar”-, uma expressão forte, fiquei faceira, porque a obra de arte a gente cria com um jeito, mas as pessoas veem com outros olhos, na saída eu encontrei outra pessoa que me conheceu e disse assim que viu a minha obra de arte, que acheu tão linda, – “aquelas duas mãos parecem até um carinho, uma coisa tão carinhosa”-, eu pensei, olha como as pessoas tem formas diferentes de interpretação, uma pensou em força e a outra em calma, tranquilidade em amor, isso que é lindo na arte, transmitir alguma coisa”.

ARTE ATUALMENTE

Para a artista, a primeira coisa é a pessoa saber o que quer fazer, depois de saber, pense como será feita, o artista tem que agradar a si mesmo, sem se preocupar com os outros, “Pense em si próprio, uma coisa que será feita porque gosta, ai já tem meio caminho andado, está com a obra mais ou menos pronta na cabeça e ai vai”.

A primeira coisa que fala para os novos é não se preocuparem muito com os outros. Isso atrapalha. “As críticas se deixa para depois quando a obra estiver pronta, enquanto a obra está sendo criada nada de ficar preocupado, a crítica é livre.”

O ATELIÊ

“É parte da minha vida, o meu cantinho, aqui eu venho me esqueço da vida, olha eu posso ficar sem almoçar, fico trabalhando e me esqueço, é meu canto, meu ninho, mesmo tendo uma família muito bem constituída, uma família com paz e amor, aqui eu esqueço que sou mãe, esposa, só fico na minha arte”.

MÚSICA

A reportagem do Portal Plural ao entrar no ateliê de Olga Liberali, percebeu, além das muitas obras de arte maravilhosas, um fato curioso, a artista cria suas artes ouvindo música, mas não qualquer estilo musical, em um aparelho com entrada para USB havia um pendrive conectado e através dele o ambiente era sonorizado com a melhor música clássica e Popular Brasileira (MPB). Para a reportagem, Olga Liberali disse: “A música acalma, me deixa mais tranquila para poder desenvolver a arte, sempre que chego ao ateliê, ligo as luzes o som e deixo tocar as músicas que seleciono.”

MENSAGEM

“Comigo tudo aconteceu porque eu fiz acontecer, não desista, vá em frente, mesmo que seu trabalho não seja reconhecido hoje, amanhã poderá ser. Imagine, crie, juntando a criatividade com a técnica, o resultado será um bom trabalho e o reconhecimento virá, tenha calma. Nascemos um pequeno botão e desabrochamos para a vida, se nos tornarmos flor ou sombras depende de nossas escolhas.”

“Minha vida tem seguido este roteiro, e ao passar dos anos as escolhas foram múltiplas, minhas obras, como pétalas de flores foram ficando pelos caminhos, marcando meu rastro pela vida, acontece muitas vezes, que sonhando de olhos abertos, vou ao encontro de um pequeno detalhe que me chama a atenção, outras vezes, de olhos bem fechados, deixando fluir emoções, vou compondo minhas obras.”

“Vidro, ferro, madeira, argila, obras inusitadas vão surgindo. O fogo, o som e a poesia muitas vezes impregnam significados na composição.”

“A arte de transformar imagens e ideias em metáforas visuais, no uso de sucatas, mesclando o vidro fundido com pó colorido, misturando o ferro retorcido e tudo sobre placas de madeira, já resultou em trabalhos inusitados.”

“Algo anteriormente inexistente, que se materializa através do fogo e da manipulação sob o impulso da criatividade.”

“É isso que torna a arte tão atraente. O uso de materiais sucateados torna-se através do fogo em obras imprevisíveis, que se transformam ao serem apreciados, em emoção pura para o fluído atento.”

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