Camila Eduarda Weber, recém-formada no curso de Psicologia da Unijuí campus Santa Rosa, trabalhou uma importante temática social para a região, em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “À margem de uma significação: a transmissão da língua materna do imigrante colono alemão no Brasil e os não ditos em face ao suicídio”, aborda questões históricas e culturais relacionadas à visibilidade de descendentes de alemães que, em muitos casos, levam ao suicídio.
A egressa explica que as marcas iniciam ainda com os imigrantes, que vieram para uma sociedade diferente, longe da língua materna, em alguns momentos até mesmo impossibilitados de falarem sua língua e, é neste momento que acontece uma parte do silenciamento. “Municípios brasileiros de colonização alemã apresentam, atualmente, índices de suicídio extremamente elevados, considerados os mais expressivos do país. Esse ato que atravessa a história da humanidade tem sido relacionado, na contemporaneidade, às produções sociais de um determinado núcleo comunitário”, afirma Camila.
Em seu TCC, Camila também explica que os imigrantes alemães estavam à margem da sociedade já em seu país de origem, levando-os a migrar. No Brasil, essa situação permaneceu, principalmente pela dificuldade de comunicação, por falarem uma língua diferente. “O suicídio, sanciona definitivamente esta margem, tal como expresso quando os imigrantes colonos alemães pronunciam ‘neben henken’, para representar o suicídio, que traduzindo significa ‘pendurar ao lado’. No entanto, este sujeito fica à margem até mesmo após a sua morte, uma vez que era costumeiro enterrar quem cometia suicídio, em um canto do cemitério ou até fora dele”, destaca a recém-formada.
Outro dado importante que Camila aponta em sua pesquisa, por exemplo, é referente às últimas informações divulgadas pelo Ministério da Saúde, sobre o assunto. Os dados referentes ao ano de 2019 e divulgados em 2021, apontam o Rio Grande do Sul como o estado com a maior taxa de tentativas de suicídio bem-sucedidas. para cada cem mil habitantes, foram 11,8 casos e, a região sul também é apontada com os maiores índices, entre as regiões do país.
A psicóloga destaca também, que sempre teve como objetivo, que sua pesquisa não colaborasse apenas com a comunidade acadêmica ou científica, mas que fosse uma contribuição social. “Eu abordei um silenciamento, uma impossibilidade de dizer, e a minha escrita tentou quebrar com isso, mesmo que minimamente. Eu busquei trazer uma contribuição que produzisse um sentido para essas pessoas. Não há sofrimento humano maior do que aquele que é silenciado, e, portanto, esse sofrimento só pode ser suportado e superado quando trocado por palavras”, finaliza Camila.
Atualmente, Camila dá continuidade à pesquisa sobre o tema, no Mestrado em Desenvolvimento e Políticas Públicas – linha de pesquisa Estado, Sociedade e Políticas de Desenvolvimento, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).