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Conheça a história do “Palanque” figura conhecida

Vanil João Guanize, nasceu em Jaguari, há 40 km de Santiago. Muito novo, saiu de casa e quis o destino que fizesse morada na região. Por aqui além de fazer amigos e colecionar histórias, ganhou o apelido que hoje é como se fosse o seu primeiro nome. Por um acaso você conhece o “ Palanque”?

“ Eu morava em Porto Mauá e jogava pife (jogo de carta), mas eu ia só quando era jogo bom e ganhava do pessoal. Quando eu ganhava “uma parada boa” eles diziam: “ é um palanque legitimo”, quando eu ganhava outra diziam, “ mas é um palanque”, e assim, ficou o nome.

Hoje com 84 anos, Palanque vive em uma chácara no interior do município de Tuparendi. Mas até chegar aqui, colecionou muitos contos na sua trajetória.

Com as “ferramentas” sempre alinhadas em sua guaiaca, ele conta que nos bailes, ganhava o título de “mais bagunceiro”

“ Eu era meio fuzarquento, mas sempre me dei bem e respeitei a polícia. Nos bailes e festas eu até ajuda eles a cuidar, quando iam embora, pediam para eu reparar. Mas o mais bagunceiro era eu! ” Exclamou ele, rindo.

Entre os acontecimentos que fizeram dele uma figura conhecida, está a ocupação que ele decidiu desempenhar. Em Porto Mauá, ele era “chibeiro”.

O chibo é atividade que consiste em buscar mercadorias da fronteira e trazer para o país. O Palanque atravessava o rio Uruguai trazendo farinha da Argentina para o Brasil. Ação que lhe rendeu alguns problemas na época.

“ Um dia me pegaram com farinha e me levaram para a Capital. Fui daqui a Porto Alegre sentado em um cepo de lenha, era uma caminhonete, fui na carroceria. Cheguei tapado de poeira e todo dolorido.

É preciso bastante tempo para te contar todas as histórias dessa minha vida”, contou a nossa reportagem.

Além do Chibo, outra marca registrada do Palanque era o bigode. Segundo ele, já chegou a medir 90cm. Tamanho que rendeu participação em um concurso no município de Giruá.

“ Eu usava ele atrás da orelha sempre, eram 90cm. Medi em uma gincana, eles pegaram uma trena e mediram na parede. ”

Por traz de tantas histórias vividas, tem alguém que decidiu compartilhar a vida com ele, a dona Dalva. Os dois estão juntos há 55 anos e nessa parceria, foram compartilhadas muitas lágrimas e risadas.

“Lutando, xingando, aconselhando, acolhendo, foi de tudo um pouco. Passamos por muita coisa e estamos juntos até hoje”, disse Dalva Guanize.

Na chácara onde vivem, o Palanque já fez baile, colocou quadra de bocha … e você pode imaginar tantas outras histórias que ocorreram nesse local. Mas hoje eles buscam a tranquilidade e vivem com as lembranças.

Tantas que daria para escrever um livro ou melhor poesias. E foi isso que ele fez, a poesia abaixo, fala sobre a sua própria vida.

“ …Passei horas de perigo, mas lutei com muita destreza. Virando cadeira mesa, com alguns soldados “peleei”, algumas porradas tomei, mas na sala fiz limpeza.

A quem viesse na frente, dava soco, tapa e tombo, de fazer virar de lombo e depois fiz uma retirada.

Lá em uma altura da estrada de tocaia me pegaram, mas quando da cadeia me soltaram eu segui minha jornada.

Depois de tempos se passaram, o dia ainda me lembro, foi dia 7 de setembro que cai nas mãos da lei.

Um mês de cadeia tomei por contrabando de farinha, perdi meu carro que tinha, mas atrás das grades muito pensei.

Me levaram para a capital, pelo juiz fui absolvido. Para ser um bom pai, um bom marido, dentro da linha andarei.

Tudo que era ruim deixei, agora estou regenerado, fico lembrando o passado nessa vida nova que sigo.

Mas as vezes conto para os amigos, para a gauchada o que eu passei”. Vanil João Guanize, Palanque.

O interior do noroeste do Estado, é repleto de pessoas que fazem parte da cultura local, como o palanque. São memórias que marcaram gerações e ficaram para sempre na história.

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