Amanda Senger, estudante de Arquitetura e Urbanismo, teve a inscrição de seu trabalho de conclusão de curso aceita em um desafio internacional que seleciona projetos com potencial transformador. Ela conta como foi a construção da proposta.
A estudante Amanda Senger, do curso de Arquitetura e Urbanismo do IFFar – Campus Santa Rosa, teve seu projeto publicado na plataforma 2022 Global Challenge, uma competição internacional de projetos com potencial de melhorar a vida de comunidades rurais e urbanas. O trabalho tem origem em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Trata-se de uma proposta arquitetônica desenvolvida para a aldeia Tekoa Pyaú, localizada no interior de Santo Ângelo, onde vivem indígenas da etnia Mbyá Guarani. A ideia prevê infraestrutura para a saúde, o trabalho, a educação e o lazer dos moradores da aldeia.
O 2022 Global Challenge é promovido anualmente pela organização holandesa sem fins lucrativos Architecture-in-Development. Conforme a página da competição, são aceitas inscrições de projetos arquitetônicos “inclusivos e impactantes”. E uma vez que a iniciativa conta com uma rede de parceiros, patrocinadores e doadores, o site no qual são compartilhados os projetos funciona como uma vitrine para trocas de experiências e obtenção de apoio.
Mesmo que não esteja entre os finalistas, Amanda explica que “ter a publicação aceita significa que o projeto possui muito potencial para qualificar a vida da comunidade. Além disso, a plataforma proporciona uma visibilidade internacional para a proposta, aumentando suas chances de obter futuras parcerias através de investidores interessados”.
Motivações
A aluna conta que a escolha da temática para o TCC está intimamente ligada à cidade em que nasceu e cresceu: Santo Ângelo, conhecida como a Capital das Missões. “Sempre estudei a história das reduções e a cultura indígena, o que me despertou muita curiosidade e paixão pelo tema. Porém, quando fiquei mais velha, comecei a enxergar as causas indígenas com um olhar mais atento e crítico, percebendo todas as lutas por direitos ligadas à elas”.
Na graduação, ela começou a se questionar sobre o que poderia fazer em prol dessas comunidades, tanto para valorizar as práticas culturais dos indígenas como para lhes proporcionar melhores condições de vida. Outra preocupação era com a sustentabilidade financeira da aldeia, cuja principal fonte de renda é a venda do artesanato.
Desenvolvimento
A partir dessas questões, Amanda relata que o projeto foi desenvolvido com base no diálogo com a comunidade. Somente após vários encontros, idas a campo e estudos a proposta arquitetônica começou a ser desenvolvida e desenhada de forma técnica.
A primeira etapa foi conhecer a área, conversar com o cacique e com os demais moradores para entender suas necessidades. Já na primeira visita de campo, a estudante percebeu as carências da aldeia em termos de infraestrutura – “principalmente de espaços de uso coletivo, que são o centro da cultura Mbyá Guarani”, explica.
O trabalho exigiu um estudo aprofundado sobre a etnia para resultar em uma proposta alinhada aos seus costumes e práticas. O respeito à cultura indígena aparece da escolha dos materiais às técnicas de construção. “Todos os edifícios propostos possuem materialidades presentes no local e que já fazem parte da cultura construtiva da comunidade, como o barro, a palha e a taquara. Isso não só reduz os custos, como também gera um senso de pertencimento em todos os envolvidos”. Outro fator decisivo foi priorizar um método que permitisse a participação da comunidade na construção de todos os blocos propostos: “por isso, a técnica construtiva adotada foi a taipa de pilão”, detalha a estudante.
Propostas
“A criação de uma infraestrutura de apoio para os moradores da aldeia tem o objetivo de trazer dignidade e qualidade de vida para este povo que, ainda hoje, é invisível para a sociedade”, ressalta Amanda. A proposta inclui centro comunitário, setor artesanal, espaço de saúde, anfiteatro, refeitório, escola de ensino infantil e fundamental, além de áreas externas como horta, composteira, setor de apoio, entre outros. O projeto também prevê alternativas sustentáveis, como a reutilização de águas e compostagem, que vão ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, da ONU.
Além de melhorar a vida dos moradores, o projeto também pensou no desenvolvimento do turismo. “A ideia é que os visitantes e turistas possam participar de oficinas de artesanato, música, dança, idioma e cultura Guarani que acontecem em todos os espaços da proposta arquitetônica, como uma forma de gerar mais renda e auxiliar na economia da comunidade e manutenção do seu modo de vida”.
O TCC teve orientação da professora Fabiana Bugs Antocheviz e co-orientação do professor Valter Antônio Senger. Amanda se forma em março.