princp

Jacinta Spies: uma vida dedicada à enfermagem

São poucas as palavras que podem definir uma carreira de 48 anos dedicada à área da saúde, largando tudo para ir atrás de seu sonho, morando em outras cidades, buscando conhecimento e aperfeiçoamento longe de casa antes de voltar para a cidade natal.

Começando sozinha na enfermagem do antigo Hospital de Caridade e atualmente trabalhando ao lado de mais de 70 enfermeiros formados, 400 técnicos em enfermagem no Hospital Vida & Saúde.

Professora Jacinta ajudando a formar mais profissionais para área, com seu conhecimento auxilia na elaboração de cursos para área de enfermagem, formando diversos profissionais.

Vó Jacinta, Coordenadora do Núcleo e Pesquisa, Enfermeira do Hospital Vida & Saúde e ainda leciona atualmente na graduação da Setrem. No próximo ano se dedicará aos netos que estão por chegar.

Confira um pouco sobre a linda história da Professora e Enfermeira Jacinta Spies, que é exemplo na família, a qual tem atualmente 15 pessoas trabalhando na área da saúde. Essa biografia também vai te emocionar!

QUANDO SURGIU O AMOR PELA ENFERMAGEM

“Minha mãe, moradora da Linha Natal em Cândido Godói, era uma referência na comunidade, pois fazia injeção, era umas das poucas pessoas que tinha e conhecia como funcionava um termômetro. Também tive uma tia que era parteira no hospital. Então um pouco desse amor veio daí, mas o que me levou a sair de casa aos 17 anos e ir estudar, foi ver minha mãe, sempre dependente do meu pai financeiramente, então pensava: ‘eu não quero isso para mim’. Busquei informações pra saber como conseguir uma vaga no hospital de São Paulo das Missões e consegui uma vaga para trabalhar na copa, onde fiquei por seis meses e fui treinada pelas irmãs para trabalhar na enfermagem. Comecei a atuar numa época em que não existiam técnicas em enfermagem; havia apenas uma única auxiliar de enfermagem que tinha curso na área, todas outras eram pessoas treinadas pelas irmãs”.

TÉCNICO EM ENFERMAGEM E FACULDADE

No ano de 1976 comecei o Curso Técnico em Enfermagem na cidade de Novo Hamburgo, concluindo em 1977. Após trabalhei no Hospital Santa Catarina em Novo Hamburgo, depois passei no vestibular em Santa Maria onde fiz minha faculdade, concluindo em 1981. Nem consegui participar do baile de formatura, pois já tinha que voltar para começar a trabalhar em Santa Rosa.

SUA VINDA PARA SANTA ROSA

Estudava durante a noite e após terminar a 8ª série tive que vir para Santa Rosa para concluir o segundo grau. Em 1975 comecei a trabalhar no hospital de Caridade como atendente de enfermagem. Estudava na FEMA, na época o curso era Técnico de Secretariado, foi quando vivi um verdadeiro conflito: gostava de trabalhar no hospital, mas estava estudando para outra área. Então comentei com uma tia que era técnica de enfermagem (que morava em Cachoeira do Sul) e ela me indicou para ir a Novo Hamburgo onde havia uma escola para Técnico de Enfermagem. Escrevi uma carta para a Diretora da escola, consegui a vaga, fiz as malas e fui para Novo Hamburgo.

RETORNO A SANTA ROSA

Voltei no mês de dezembro de 1981, logo após concluir a faculdade. Na época, a única enfermeira formada do Hospital de Caridade já havia saído; não existia ninguém que pudesse me passar plantão e outras informações. Fiquei trabalhando durante dois anos sozinha, às vezes vinha alguma enfermeira, mas logo ia embora. Fomos constituindo um grupo, entre três, depois cinco.

MOMENTOS DE CRISE

Vivi momentos difíceis do hospital: lavávamos e reaproveitámos até gases. É até uma vergonha hoje em dia dizer isso, mas todos os hospitais faziam. Seringas de vidro que eram fervidas e agulhas de metal que eram afiadas com uma pedra especial, compressas cirúrgicas eram reaproveitadas.

NOVA CRISE

No ano de 2006 o hospital não tinha nem mantimentos, papel higiênico, roupas de cama, alimentos para pacientes. Fazíamos escalas em frente aos supermercados para arrecadar mantimentos para o Hospital.

MOMENTOS DE FARTURA

Quando foi lançado uma raspadinha o hospital viveu momentos de fartura. Entraram muitos equipamentos que nem conhecíamos para estruturar a nova UTI. Todo dia chegavam equipamentos novos e tínhamos que testar todos os equipamentos.

PROFESSORA

Não consigo me imaginar fazendo outra coisa. Sou professora em cursos de Auxiliar de Enfermagem. Quando comecei não existiam cursos na região; na época lecionei dentro do hospital três cursos de atendente. Quando estava sozinha eu tinha horário para entrar e não tinha horário para sair. Já era proibido contratar sem Curso Técnico em Enfermagem. Tínhamos vagas para auxiliar; anunciamos em jornais (Zero Hora), nas cidades que tinham cursos ligávamos para encontrar quem contratar. Logo após abriu curso em Três de Maio; o Hospital pagava metade do curso e a prefeitura disponibilizava o transporte e motorista, a Kombi ia lotada. Também dei cursos de extensão em auxiliar de enfermagem na Unijuí, em Três de Maio no Colégio Dom Hermeto e atualmente na Setrem na Graduação do Técnico em Enfermagem, onde também ajudei a estruturar o curso. Ensino a história da enfermagem; essa parte da história, de 40 anos até hoje, não preciso nem pegar livro para ensinar, pois eu vivenciei tudo isso.

VIDA & SAÚDE

Comecei sozinha no Hospital; atualmente somos mais de 70 enfermeiros formados, 400 técnicos em enfermagem.

FAMÍLIA

Tenho duas filhas: Larissa que trabalha na UTI Pediátrica do Hospital Vida & Saúde e também deu aula na FEMA e a outra Patricia trabalha no Sírio Libanês em São Paulo. São enfermeiras que tenho o maior orgulho. Não influenciei, escolheram por conta própria.

MERCADO DE TRABALHO ATUAL

Eu sempre defendi que é um objetivo do Hospital investir em cursos, dando oportunidade para novos profissionais na área. Queremos pessoas bem preparadas, mas devemos abrir as portas para buscarem o aperfeiçoamento na prática. Atualmente é mais difícil contratar técnicos de enfermagem do que enfermeiro que está bem saturado.

DICAS DA ENFERMEIRA JACINTA

Trabalhe em algo que te realize profissionalmente, porque trabalhar em algo que você não gosta vai te desgastar e acabar com você completamente. Faça exercícios físicos. Busque sempre mais, pois se quiser permanecer no mercado de trabalho precisa estudar e trabalhar. Minha filha de São Paulo me xinga que fui até lá apenas uma vez para passear, nas outras oportunidades vou para congressos, Simpósio Internacional, para saber o que acontece a nível mundial, utilizo esse conhecimento aqui dentro (Vida & Saúde) e nas escolas. Tenha uma alimentação saudável; bebidas alcoólicas não vou dizer que não, mas em finais de semana ou quando se reúne com amigos podemos tomar uma cerveja ou Chopp.

UM MARCO

A entrada da tecnologia interferiu bastante, principalmente com as pessoas da minha idade do que as mais jovens. Aprendi que não adianta resistir, que o mundo não vai parar de girar. Tem que se dar conta que o mundo está andando que devemos acompanhar, mas o que me chama muito atenção é a velocidade do conhecimento, tudo muda muito rápido. Preparo uma aula para esse ano e no ano seguinte posso usar somente a base para reaproveitar, todo conteúdo precisa ser revisto e já tem muita coisa nova.

ENCERRAR A CARREIRA

No mês de outubro de 2016 eu tinha decidido parar de trabalhar um pouco, quando fui avisar, recebi uma proposta para assumir o Núcleo de Segurança do Paciente, ajudar e organizar o hospital em busca da acreditação hospitalar. Foi uma grande realização profissional nesses dois anos o que consegui ajudar, juntamente com outras mãos, pois não se constrói sozinho. Conseguimos a acreditação em nível II, foi uma alegria muito grande. Para o próximo ano tenho dois grandes motivos para reduzir o ritmo: vou ser avó em fevereiro e início de julho, agora vou pensar, me reorganizar, mas amo as duas coisas que faço, tanto na docência e no hospital.

MORTE

Sou extremamente sensível, fiz um juramento na minha formação (choro). Tenho um lado espiritual: quanto tem pacientes na UTI converso com as famílias sobre a gravidade, pergunto se tem religião que seguem, buscamos proporcionar que o Pastor ou Padre venha dar uma benção para ajudar nesse momento de sofrimento. Em 2012 realizei um curso de extensão em Passo Fundo sobre tanatologia (fenômenos em torno da morte): começamos o curso com cinco pessoas e terminamos entre duas, pois nem todos aguentam. Saímos daqui pensando ‘vamos passar um dia inteiro falando sobre morte’ e o dia passava tão rápido que não dava para acreditar. Isso me ajudou muito em enxergar a morte de uma forma diferente, tanto que quando leciono esse tema em biomédica falamos sobre os limites da vida e morte. O curso me ajudou muito. Vivenciei casos muito tristes na UTI, dava suporte no Pronto Socorro, muitas vezes não tinham palavras para dizer, pegava no ombro do familiar e chorava junto.

MENSAGEM

Para chegar onde cheguei, fiz muitas renúncias. Quando me formei, nunca imaginei que viria a gerenciar um grupo grande de pessoas em uma instituição igual ao Hospital Vida & Saúde. Só tenho a agradecer a todas as pessoas que passaram pela minha vida, aos colegas, superiores, diretores, administradores, que vou levar para o resto da vida; outros nem tanto, mas que também me fizeram aprender como não fazer as coisas. Eu sinto que o meu trabalho é reconhecido no Rio Grande do Sul. Foi um trabalho construído com o apoio que sempre me deram. Trabalhar na UTI por 14 anos, um setor que me trouxe muita proximidade dos pacientes mais críticos, eu que ajudei a desenhar, rascunhei a UTI inaugurada em 1992 que é utilizada até hoje.

Add a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *