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FEMINICÍDIO: Uma triste realidade

Município registrou o primeiro Feminicidio, seguido de suicídio do ano, um crime que abalou a comunidade regional.

No início da noite de quarta-feira, 11 de março, por volta das 19h40min, a cidade de Santa Rosa registrou duas mortes, um feminicidio seguido de suicídio. A tragédia ocorreu na Rua Marques do Herval na Vila Flores.

O Policial Civil Andrei Ribas, natural de Santo Ângelo e lotado na Delegacia de Polícia da cidade de Santo Cristo foi até o apartamento no sétimo andar do Residencial Morada das Flores onde estava a ex-namorada, Aline Kall de 29 anos e o atual namorado cujo nome não foi divulgado. De acordo com informações, o Policial ao chegar ao apartamento acionou a companhia e ao ser atendido teve início uma discussão entre os três e o policial teria feito um gesto que estava com uma arma. Diante da ameaça, o atual namorado teria saído do local e buscado proteção. O policial segurou a Ex-namorada pelo braço e a conduziu até a calçada em frente ao prédio, onde supostamente ocorreu uma briga resultando em vários disparos contra a ex-namorada, na sequência ele cometeu suicídio com um tiro no peito.

A equipe da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), comandada pela Delegada Josiane Froelich, e Delegacia de Repressão as Ações Tiago Roberto Tescke começaram na mesma noite a ouvir algumas testemunhas. ´Conforme informações, no histórico do policial não há nenhum registro de violência doméstica. Pelas imagens das câmeras de monitoramento do prédio, o autor do feminicidio chegou ao local ás 19h32min. A polícia ao chegar no apartamento observou que houve um possível embate, mas, isso somente a perícia poderá apontar.

O Primeiro femincídio do ano em Santa Rosa está sendo investigado pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) do Bairro Cruzeiro.

Juri Popular em Santa Rosa julga caso de feminicídio

No dia 05 de março, foi julgado em Santa Rosa, um homem por tentativa de feminicídio, ocorrido no dia 27 de novembro de 2018, onde ateou fogo na ex-mulher. A Juíza Criminal Vanessa Lima de Madeiros Trevisou, foi responsável pelo julgamento, que condenou Pedro, a 10 anos e sete meses de detenção. O juri popular ocorreu no Fórum de Santa Rosa, o réu vai cumprir a pena inicialmente em regime fechado e não pode recorrer em liberdade. Na época a mulher ficou internada no Hospital e o acusado permaneceu a seu lado evitando que ela fizesse a denúncia.

O Brasil teve um aumento de 7,3% nos casos

O Brasil teve um aumento de 7,3% nos casos de feminicídio em 2019 em comparação com 2018, aponta levantamento com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal. São 1.314 mulheres mortas pelo fato de serem mulheres – uma a cada 7 horas, em média. A alta acontece na contramão do número de assassinatos no Brasil em 2019, o menor da série histórica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O país teve 19% menos mortes em 2019 que em 2018. Se forem consideradas apenas as mortes de mulheres, o que inclui também os casos que não são classificados como feminicídios, houve uma diminuição de 14% – menor, mas, ainda assim, um recorde.

O novo levantamento revela que:

O Brasil teve 3.739 homicídios dolosos de mulheres em 2019 (uma redução de 14% em relação ao ano anterior)

Do total, 1.314 foram feminicídios, o maior número já registrado desde que a lei entrou em vigor, em 2015

8 estados registraram alta no número de homicídios de mulheres

16 estados contabilizaram mais vítimas de feminicídios de um ano para o outro

O Acre é o que tem o maior índice de homicídios de mulheres: 7 a cada 100 mil

Acre e Alagoas são os estados com a maior taxa de feminicídios: 2,5 a cada 100 mil

Promotora da violência doméstica em Santa Rosa publica texto fazendo uma reflexão sobre a violência contra a Mulher

Amigos, sem temer pela divergência de opiniões, que, aliás, sempre são bem vindas e nos fazem reforçar ou amadurecer pontos de vista, não posso me calar diante do triste episódio envolvendo o assassinato de ALINE KALL.

Em pleno dito “mês da mulher”, no último dia 11 de março, toda Santa Rosa dormiu triste e estarrecida com a morte de mais uma vítima da violência de gênero Aline, linda jovem de 29 de anos, enfermeira, mãe do pequeno Felipe (de 03 anos, portador de síndrome de Down), foi morta pelo ex-namorado, com 05 disparos de arma de fogo, em frente ao prédio em que morava, sendo o fato seguido de suicídio do seu assassino, policial civil de cidade vizinha.

Santa Rosa toda parece que se chocou! Meu whatsapp, em minutos, lotou de mensagens, e todas mostravam consternação pelo ocorrido. Me questionavam, enquanto Promotora da violência doméstica de Santa Rosa, se já era de nosso conhecimento o caso; se Aline já era atendida pela rede, todos numa busca de explicações de como se chegara àquele ponto, já que se tratavam de duas pessoas “esclarecidas”. Era noite e não estava de plantão; então, após angariar alguns informes sobre o ocorrido no próprio grupo de whatsapp da rede de enfrentamento à violência doméstica de Santa Rosa e na imprensa local, verifiquei que a vítima não havia procurado ajuda da rede; e as mensagens diziam “ela comentava que ele era ciumento; que ele era possessivo…”; porém, jamais chegara ao meu conhecimento de que ela pudesse estar em situação de risco. E aconteceu o que mais tememos, enquanto rede de enfrentamento o ato final de uma história de violência – o feminicídio!

E agora toda a sociedade chora; fotos de perfis de redes sociais são envolvidas pela faixa “NÃO AO FEMINICÍDIO”, “ESSA LUTA TAMBEM É NOSSA” e por aí vai.

Somos o país em que mais se mata mulheres no mundo! E o Rio Grande do Sul é o terceiro Estado neste ranking nacional. Pesquisas apontam um feminicídio a cada 90 minutos; outras, a cada 60 minutos; uma verdadeira epidemia, pra se falar o nome da moda, em época de coronavírus. Mas uma morte assim, de alguém tão próximo a nós, tocou nossa sociedade. Parece que quando é lá longe, nas estatísticas, o problema não é nosso… fato é que, pela tristeza, muitos acordaram para o problema GRAVÍSSIMO de que mulheres morrem pelo fato de serem mulheres!

Ocorre que o feminicídio não surge na vida dessas mulheres como um “trovão em céu sereno” (expressão que li em algum livro que aborda a matéria). A violência doméstica e de gênero percorre, como regra, um caminho, que começa com microviolências e vai evoluindo, até culminar, por vezes, com o assassinato da mulher.

Tudo tem início muito antes dos empurrões, dos tapas, dos chutes, dos socos, das facadas e dos tiros. Há, no começo, intimidações, ciúmes excessivos, palavras de aviltamento, vigilância constante, controle de comportamentos e atos que, numa visão rasa e inicial, são vistos até como verdadeiras “provas de amor”, do tipo, “não faz isso ou aquilo, não usa essa ou aquela roupa, não sai com as amigas, e estou dizendo isso porque te amo”, etc e tal. Ou seja, antes da violência física, existem microviolências que preparam o terreno. Quando um homem agride fisicamente sua mulher, a intenção não é de deixá-la com um olho roxo, e sim de MOSTRAR-LHE QUE É ELE QUEM MANDA (o que acha que não conseguiu com as anteriores formas de violência).

E aí que quero chegar na necessidade de se agir, vítimas e sociedade, antes mesmo de os fatos se tornarem mais graves, para que não choremos mais a morte de uma mulher, mais uma morte de uma mãe especial!

É verdade que a violência de gênero é fenômeno extremamente complexo, por todos os ângulos que se analise; que atinge todas as classes econômicas, sociais e intelectuais e, justamente por isso, não há uma fórmula pronta para se erradicar o problema.

São inúmeras as causas que levam à violência e, assim também, levam uma mulher a não denunciar as agressões de seus companheirosex-companheirosnamorados às autoridades. Embora o número de denúncias venha crescendo consideravelmente ano a ano, graças à informação crescente, não raras vezes também vemos a reconciliação do casal e a “indignação” da dita sociedade esclarecida com aquele episódio “mas como uma mulher se sujeita a isso”, “por isso que não me meto, depois estão juntos de novo”, “só pode gostar de apanhar” e por aí segue.

Pra quem comenta, da tranquilidade do seu lar, é muito fácil criticar essa mulher. Eu mesma, confesso, ainda hoje faço um exercício diário em muitos processos para tentar entender isso, mas estudando e conhecendo o fenômeno da violência “intramuros”, vou evoluindo.

E precisamos todos entender, enquanto sociedade, para podermos ajudar essa mulher. E repito, essa ajuda deve ocorrer lá no início, mostrando a ela que “algo” não parece certo naquele relacionamento; orientando-a a procurar informações com a rede de enfrentamento à violência (em Santa Rosa, temos o Centro de Referência da Mulher (localizado atrás do antigo Liminha), a Brigada Militar (que conta inclusive com a Patrulha Maria da Penha), a Defensoria Pública, a Delegacia da Mulher, o posto de saúde ou diretamente o MINISTÉRIO PÚBLICO). Todos encaminharão ou orientarão essa mulher para atendimento, para que tenha conhecimento dos seus direitos e possa, então, tomar a melhor a decisão sobre a sua vida.

E perguntam mas isso é garantia de que vai dar certo Não, infelizmente não é, mas não procurar ajuda já sabemos que é garantia de que vai “dar errado”!

Ahh, mas e se ela voltar com o marido namorado, eu vou ficar de “ruim” na história! Talvez sim! Mas talvez não! Talvez você, que a orientou a procurar ajuda e a fez ver a gravidade de algo que parecia “só uma prova de amor”, seja o responsável por ela não ser a próxima ALINE!

Agressões e abusos contra a Mulher

por Aline Scheuermann Juzwiak, Especialista em Comportamento Feminino / Consteladora Familiar

Manchetes: 1) Mais de 500 mulheres são vítimas de agressão física a cada hora no Brasil: pesquisa mostra que 9% das brasileiras relatam ter levado chutes, batidas ou empurrões no ano passado, índice sobe para 29% se forem contabilizadas as que sofreram agressões verbais. No entanto, 52% delas afirmam não ter feito nada após os atos (Jusbrasil).

2) Brasil registra 1 caso de agressão a mulher a cada 4 minutos, mostra levantamento: violência se dá sobretudo em casa, com agressor conhecido. (Folha de São Paulo 9/9/2019).

3) Por que elas continuam com seus agressores? (Revista Fórum) O roteiro é recorrente: sempre que uma mulher é espancada, mutilada ou morta por um parceiro, principalmente quando alguma agressão já havia ocorrido, muitas pessoas questionam as atitudes que não foram tomadas pela vítima. “Por que não se separou?” e “por que não fez a denúncia?” são algumas das indagações mais frequentes. Afinal, por que alguém permaneceria em um relacionamento em que se é surrada e humilhada?

As manchetes citadas acima fazem meu coração sangrar ao mesmo tempo que reforçam minha vontade de lutar por nós mulheres. Acredito com todas as forças que vale a pena.

Muitas de nós podem ficar por dependência financeira, falta de apoio da família, mas muitas ficam por violência psicológica que sofrem ao longo da vida. A violência psicológica faz com que acreditemos que não temos valor, faz com que nos escondamos por termos nossa aparência física ridicularizada e também por termos nossas capacidades intelectuais menosprezadas. Essas mulheres acreditam que devem suportar tais agressões, que relações sadias e contributivas não estão disponíveis a elas e que uma vida leve, abundante e feliz é algo inatingível.

Por trás de cada mulher que perdoa e que suporta agressões e abusos está um ser humano carente de ser visto e valorizado não somente pelos outros mas principalmente por si mesma. Cada uma de nós possui todos os recursos para sermos o que quisermos ser, e tudo tem início quando passamos a acreditar nisso.

EM DEFESA DE TODAS NÓS

por Carolina Isabel Bergenthal, Acadêmica de Enfermagem -Universidade Franciscana

Questões relativas à vivência de uma sexualidade plena, condições de salários e trabalhos igualitários e reconhecimento social se constituíram e ainda se constituem como temas centrais de muitas ações que visam, ao longo das ultimas décadas, o reconhecimento do papel da mulher na nossa sociedade. Porém, acontecimentos recentes que chocaram nossa região fazem fomentar a pergunta: Por que as mulheres ainda são tão suscetíveis a situações que colocam em risco as suas vidas?

Apesar das diversas conquistas obtidas por meio das lutas feministas, a mudança cultural ocorre lentamente e a liberdade ainda é muito limitada por constrangimentos de ordem moral que em muitos casos, ainda inclui a submissão à figura masculina. Isto muitas vezes tem como consequência as diferentes formas de violência que acompanhamos diariamente nas mídias. Os casos de feminicídios, que tristemente fazem parte de uma estatística gigantesca e cruel, refletem o quanto somos suscetíveis ao machismo impregnado na nossa sociedade. Por essa ser uma discussão que ainda têm pouco destaque no ponto de vista social e cultural, torna difícil a abordagem dessas temáticas em serviços que, em suma, deveriam ser utilizados para dar suporte às mulheres, como os serviços de saúde e educação, por exemplo. Esses espaços, principalmente, deveriam incentivar mais o acesso às informações que ajudam a entender e reconhecer os atos de exposição e de violência, além fornecer segurança e confiança por meio do empoderamento de meninas e mulheres. Elas precisam encontrar, tanto nestes serviços quanto fora deles, o apoio necessário para que se sintam seguras na hora de decidir sobre sua saúde, seu desenvolvimento sexual, pessoal ou sua vida amorosa. E para que isso aconteça, toda a sociedade deve passar por um processo de reeducação e compreensão do papel e do protagonismo da mulher no mundo atual. Dessa forma, estaremos mais preparados para reconhecer os casos de risco, acolher as situações de fragilidade e principalmente, atuar ativamente na luta contra o machismo e às situações de violência em que as mulheres são expostas. Reconhecer os direitos e a independência das mulheres é um desafio a ser enfrentado. E não há classe social, cor, religião ou etnia quando se trata da defesa do simples direito de viver.

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