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A água, o ouro azul

por, Jacinto A. Zabolotsky

Até bem pouco tempo atrás “o líquido precioso” da humanidade era o petróleo -pivô de sangrentas guerras e acirradas disputas econômicas. No entanto, um líquido mais precioso que o “ouro negro” desponta neste terceiro milênio – e justamente o menos provável de ser assim considerado, pois é aquilo que de mais abundante há em nosso planeta. Isso mesmo, trata- se da água.

De componente banal em qualquer situação de nosso dia a dia, a água alcançou status de bem ambiental dotado de valor econômico, cuja disponibilidade encontra-se seriamente ameaçada. Em primeiro lugar, porque, apesar de toda a aparente abundância, apenas 2% de toda água que compõe o planeta, presta- se ao consumo humano, e somente um décimo desse percentual encontra- se facilmente acessível. Soma- se isso a um crescente processo de degradação ambiental provocado pelo homem ao longo de sua jornada “civilizadora”. A poluição e a contaminação por dejetos tóxicos (urbanos e rurais) que afetam as vertentes, rios e lagos pelo mundo afora, têm disseminado doenças.

Os governos e as ONGs no mundo têm-se mobilizado a fim de tomarem medidas que assegurem a preservação de mananciais disponíveis para as gerações presentes a futuras. O Brasil vem acompanhando esta tendência, tanto que editou a Lei 9.433/97, visando à regulamentação do uso de recursos hídricos em todo o território nacional.

Prevê- se que em 2025 a população do planeta atingirá 8 bilhões de habitantes. Com isso, a demanda pelo precioso líquido aumentará, e os conflitos decorrentes de sua falta serão agravados. Caso nada seja feito, teremos em pouco tempo o “choque da água”, grave e talvez mais devastador do que representou o “choque do petróleo” para muitas nações.

Rios, lagos e aquíferos de toda sorte, contaminados pelos dejetos/lixos das atividades econômicas, pela eliminação de efluentes das ações urbanas e rurais, têm respondido silenciosamente aos usuários das águas, mostrando que, uma vez comprometidos em sua qualidade já não mais se prestam, como manancial degradado que se tornam, para a utilização econômica e social.

A escassez de água potável já atinge 31 países, sendo a maioria do continente africano. Em breve, atingirá também o México e a Índia, além de outros países.

Grandes empresas multinacionais (de refrigerantes) como Coca-Cola, Pepsi e Nestlé, dominarão o mercado de água – que hoje movimenta bilhões de dólares no mundo inteiro – e serão as principais comerciantes de água nos próximos 10 anos.

A situação é tão grave, que se pode constatar, sendo comum em várias residências e lojas, que não mais utilizam a água da torneira e muitas pessoas estão comprando água mineral sem gás (tubos de 20 litros) para seu consumo diário ou utilizando filtros de água.

Como vimos, o cenário da água – o “ouro azul” – é caótico. Contudo, pode ser controlado, com conscientização dos governos e da população, que devem preservar, aplicando o princípio do desenvolvimento sustentável, com políticas de proteção ao meio ambiente, aos lençóis freáticos, aos córregos, rios e lagos que ainda não estão poluídos, pois deveremos nos preocupar não só com a atual, mas com as futuras gerações, que também merecem água potável.

Obs.: A republicação desta crônica se deve diante da importância da água e por ser atual pois também já foi publ. no jornal Zero Hora em 09.10.2003, pág. 21, sendo que do que um excerto foi tema de redação na Universidade Federal de Rio Grande, no vestibular de jan/2004.

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