Nedi Vicente Steffen

O Jornal Plural conversou com a professora aposentada Nedi Vicente Steffen que contou um pouco sobre sua história. Nedi começou a lecionar na Escola Estadual Visconde de Cairu, “Meu primeiro dia de aula foi no Cairu e o último também, não trabalhei em outro local, foram 26 anos de carreira”, qual ensinava inglês e alfabetização ao longo da carreira foram 26 turmas alfabetizadas.

No atual momento as escolas estão sofrendo com cortes no plano de carreira e parcialmente em greve, Nedi lembra que desde o começo foi assim, “A minha primeira greve foi 1980, não participei muito efetivamente da greve, meu marido estava doente então fomos a Santa Maria e fiquei com ele na cidade”.

A professora Nedi falou ao Portal Plural sobre como era dar aula em sua época e o que acha atualmente, governo, salário, aposentadoria, futuro da educação e deixou uma mensagem aos professores.

EDUCAÇÃO NA SUA ÉPOCA

“No meu caso não é tão diferente por que na primeira série eles vem ‘fresquinho’, respeitando, a criança pequena gosta da professora somos um ídolo para eles”.

EDUCAÇÃO ATUALMENTE

“Piorou, os alunos não aprendem em casa a valorizar os professores, esse é o grande mal da educação, não se tem respeito nem vontade de aprender, é muito ruim isso, os professores não tem mais liderança dentro da sala de aula, por que não se pode falar quase nada, respondem, batem boca até agressões ocorrem por parte dos alunos e quando não acontece por parte dos pais, se não mudar vai ficar muito pior”.

“Se o aluno não aprende a valorizar o professor em casa não da certo. Diziam que eu era excelente professora e eu dizia que não era, e sim eu tinha uma excelente turma de alunos”.

GOVERNO

“Eu acho que o Governo gosta do povo mal educado e burro, os que têm um pouco mais de clareza não aceitam qualquer coisa, são mais politizados não aceitando tudo que vem de cima”.

SALÁRIO

“Eu também estou recebendo salário parcelado, esses dias recebi R$ 12,70 e estava escrito pagamento da folha salarial, até reconheço que o estado não tem dinheiro e não tem da onde tirar, não é um problema geral por que tem pessoas que ganham tanto sem fazer nada, o que um vereador recebe e quanto trabalha?, claro que alguns vereadores trabalham, o vereador e um professor tem muita responsabilidade”.

“No meu tempo era diferente, mas e agora no atual momento quem vai ter vontade de trabalhar fora de hora para melhorar o aluno ou escola, não se tem boa vontade, tem professores que ganham muito bem pelo o que fazem, eu cansei de ver isso. Na minha escola éramos um grupo muito unido, eu deveria cumprir 40 horas, mas minha tarde de folga eu estava na escola trabalhar com os alunos que estavam mais ‘fraquinhos’, nunca meus alunos rodaram e eu não passava ninguém por passar, tínhamos boa vontade com a escola, trabalhávamos jantares almoço compramos equipamentos para laboratório tinha dentista e médico, agora não se tem mais e com toda razão a maioria dos professores não trabalham fora de horário”.

APOSENTADORIA

“Me aposentei em 1989, mas não queria me aposentar, minhas filhas estudavam em Santa Maria o que eu iria fazer?, na época teve mudanças e teriam que tiram professores do Cairu, eu achei injusto e me aposentei para deixar as professoras mais novos ficar. Para passar o tempo comecei a fazer tricô e ainda faço, para comprar 5 novelos de lã, eu comprava um a cada dia para ocupar meu tempo”.

“Eu chorava para voltar a dar aula, até pensei em fazer concurso, mas fui olhar o Cairu e notei que estava tudo diferente, que o tempo passou e mudaram os professores as pessoas e eu estava perdida”.

FILHAS LONGE

“É muito triste, terrível, agora meus netos estão indo estudar fora, e sofremos igual, mas é por uma boa causa, mas é muito ruim. Minha filha Marilis Steffen se formou em Geografia, mas o foco dela era moda só que não tinha na época, Lisie Steffen é fisioterapeuta”.

ALUNOS E COLEGAS

“Todos os dias encontro alunos, às vezes é muito chato por que saio na rua o aluno vem falar comigo e eu não consigo lembrar quem é, por que mudaram tanto, sempre pergunto quem é com os antigos colegas de profissão às vezes nos encontramos ainda, a maioria já faleceu e eu estou na berlinda (risos), mas a amizade se manteve com o tempo”.

FUTURO DA EDUCAÇÃO

“Eu quero acreditar que vai melhorar, acredito que os Governantes vão se dar em conta, até o Ministro da Educação já falou que os professores precisam ganhar bem, se não a educação vai a falência”.

OLHANDO PARA TRÁS

“Não teria feito nada diferente, amava lecionar eu não ficava um dia em casa, trabalhei 26 anos não tive uma falta, apenas duas licenças de gestante, de tanto que eu gostava e nunca gostei de turma pequena tinha que ter 25 ou 26 alunos, eles quase não sentavam em sala de aula sempre com atividades ou se ajudando, as normalistas assistiam as aulas ficavam apavoradas, não podia fazer bagunça nem algazarra, mas tinham liberdade eram crianças de 6 ou 7 anos”.

REALIZADA

“Eu me sinto uma mulher realizada, só fico triste que estou viúva há três anos, mas sinto que fiz tudo o que tinha que fazer, não deixando nada para trás. Tenho o hábito de ler muito e não perco as notícias”.