por Alcides Vicini
Neste novembro de 2023, chego aos meus 78 anos de caminhada no mundo. Tenho o privilégio, portanto, de ter visto e participado de variados e maravilhosos fatos.
Como não acontecia algum tempo atrás, hoje desfruto de privilegiada percepção para apreciar e analisar as ocorrências da vida na sua real dimensão. A experiência mostra, de forma cada vez mais nítida, o que é essencial e aquilo que é acessório.
O passar do tempo permite que as dores, as decepções as tristezas selam mais suportáveis; por outro lado, as alegrias, os momentos de felicidade perdem um pouco aquela luminosidade estonteante e passam a ser mais serenos e duradouros.
Na maturidade, passa-se a apreciar e valorizar mais pequenas coisas antes nem percebidas. Para mim, o canto do sabiá nas madrugadas de primavera, passou a ser momento de estímulo para levantar e ter vontade de tocar a vida com esperança.
Nunca fui de ter muita percepção dos detalhes formais. Dias atrás, ao chegar para o almoço, olhei nossa casa de frente e ao entrar, falei pra esposa Elenir: Você se deu conta que nós vivemos numa casa bonita? Ela me olhou meio estranha e respondeu: Só hoje que você viu? Damos risada.
Muitas vezes gostava de recitar aqueles versos do poeta:
“Ó que saudades que tenho,
da aurorara de minha vida,
de minha infância querida,
Que os anos não trazem mais”.
Hoje não tenho mais esta nostalgia melancólica como que a juventude distante seja uma perda. Pelo contrário, o convívio com os mais jovens deixa mais aguda a percepção de que é bom ter passado aquela fase que nos permitiu construir uma visão mais global e realista da vida, do mundo e seus valores.
Posso afirmar com sinceridade que estou rumando para a década octogenário com a alegria de viver dos meus verdes anos, sem medo da finitude inevitável, com o compromisso atento de viver bem, apreciar bem cada detalhe desta vida que Deus nos deu e caminhar na esperança de que teremos muitas manhãs.