O olhar do fotógrafo sobre a trama urbana de Santa Rosa
por Teresa Christensen
O presente texto tem como objetivo viajar no tempo, buscando juntar pedaços e fragmentos de velhas fotografias que se encontram dispersos, proceder uma leitura espaço-temporal na tentativa de não só justificar a fotografia como uma arte complexa como também portadora do sentido que aproxima os homens, através de suas lembranças, deixando emergir arquivos que se encontram escondidos em “baús de recordações”.
Sabemos que existem muitas fotografias desde o início da Colônia Santa Rosa. Muitas delas estão no Museu Municipal, organizadas pela Anete Krebs, e, também há um excelente trabalho de coleta e publicação desse material que está sendo feito pelo Pedro Bervian, no resgate de fotos da história da cidade. Trata-se não só de aspectos do processo de ocupação urbana de Santa Rosa, desde as primeiras décadas do século passado como também aspectos da vida cotidiana, das colheitas, dos casamentos, das fotos de família que se embelezavam aos domingos para deixarem-se fotografar. Enfim, realçar os diversos aspectos humanos que faziam parte da vida de cada um. Posar para uma máquina fotográfica era sempre um acontecimento. O que me faz ficar com medo é que todo este material se perca nas brumas do tempo, assim como se perdeu “A SERRA”.
Sabemos que uma ocupação urbana pode ser compreendida sob os mais variados aspectos e situações que o espaço é continuamente investido de múltiplos significados por parte de diferentes segmentos sociais. É no embate de interesses e demandas diferenciadas, e por vezes contraditórias que se delimita e se institui a trama urbana.
E, na descostura dessa trama urbana que vamos encontrar a formação da Sede 14 de Julho, a Cidade velha e a Cidade Nova. O tema da formação urbana da cidade de Santa Rosa, traz escrito em si às dimensões políticas, sociais e econômicas da história da cidade sob as mais diferentes e distintas práticas humanas sob uma determinada perspectiva histórica.
Então, nada melhor para fazer esta análise do que o olhar do fotógrafo. Sabemos que a fotografia é mais do que um registro, é um bem precioso, particularmente, quando estão relacionadas com fatos históricos.
Os fotógrafos sempre tiveram uma atração por esta cidade. Podiam ser simples amadores ou como se chamava na época, batedores de chapa, porém, prestaram a sua contribuição. Assim, vamos encontrar na Sede 14 de Julho, aí pelo ano de 1923 o holandês Adriano Kreuning, prático em farmácia e apaixonado por fotografias. Ele fotografou as primeiras transformações urbanas da Sede, a construção da Praça da Independência, a Comissão de Terras e Colonização, os jovens de Santa Rosa, as construções das primeiras casas, a Sociedade Lírica Concordia, enfim registrou para a posteridade como tudo começou.
As transformações urbanas foram sendo cristalizadas pelas diversas lentes dos fotógrafos e se animaram com o tempo, nos aproximando dos diversos acontecimentos. Sabemos que nada existe de mais profundo e ao mesmo tempo mais delicado do que essas imagens da passagem do tempo.
Bem próximo à emancipação política de Santa Rosa, vamos encontrar o fotógrafo profissional Felippe Koch, que deixou todo um material fotográfico, estando entre os primeiros a produzir uma leitura sobre a cidade percebendo mudanças significativas nos espaços e na forma de sociabilidade urbana.
O seu filho, Bernardino Quirino Koch seguiu os seus passos. Possuía talento e gosto pela fotografia e tornou-se um especialista em lidar com o que há de mais belo na alma humana, a imagem. Na sua juventude quando dominava bem a arte de fotografar, as pessoas que aqui viviam e a cidade eram seus modelos favoritos. Fotografou Santa Rosa desde a Colônia até a sua emancipação política tecendo uma ponte entre aquela realidade retratada nos longínquos anos trinta e o momento presente numa longa travessia cheia e realidades tão distintas.
Fotografias antigas são recordações empoeiradas que turvam o nosso olhar e fazem com que os personagens ali retratados como num passe de mágica voltem à vida passando a estar presente nos acontecimentos da cidade Essas imagens refletem sentimentos como campos semeados pelo itinerário da memória quando assim as olhamos amareladas pelo tempo.
Então, santa Rosa cresceu, modernizou-se, se expandiu criando áreas periféricas; se verticalizou através da construção de grandes edifícios. Modernizou o espaço urbano através da abertura de avenidas, bem como a demolição de prédios antigos causando certo impacto na população local e uma ruptura em relação às experiências urbanas do passado.
Toda essa modernidade trouxe também excelentes profissionais da Fotografia. Lembramos Plinio Luconi, Pacheco fotografias, Miriam Ramos, Miguel Oliveira e muitos outros cujos nomes não me ocorrem agora
Acho que escrevi demais. Este texto não para ficar tão grande na verdade, eu não queria só falar de fotos antigas. Queria também chamar a atenção para a necessidade da criação de um Centro de Memória Regional, aonde possam ser guardados adequadamente o significativo acervo de fotografias e documentos de Santa Rosa. Talvez, quem sabe no Novo Centro Cultural. É só uma ideia!
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